Lula e Bolsonaro
Eis que, acidentalmente, assisti a uma entrevista com os presidenciáveis; uma reprise na Globo News.
Jesus! – nunca ouvi tanta barbaridade.
Bolsonaro é “acerebral” ou tem um “ovo cozido”, (fala dele sobre outros) na cabeça. Nada poderia ser mais estapafúrdio que a proposta dele: EAD – aprendizagem à distância para o ensino básico. Citando uma das sandices.
Se as escolas enfrentam dificuldade no ensino presencial e os alunos chegam à quinta série sem conseguirem ler, o que dirá de aprenderem sozinhos e/ou com familiares despreparados intelectual e didaticamente, lhes auxiliando, como o disse e acha muito plausível o Sr. Bolsonaro?
A escola pede socorro há muito tempo, tanto pelas políticas educacionais, como pela baixa remuneração dos docentes, pela falta de recursos financeiros e pedagógicos; falta de apoio governamental. Mas, ao invés de priorizar a escola, o candidato quer o ensino à distância. E disse que isso vai levar a educação aos confins do Brasil, onde não há escolas ou onde estão muito distantes.
Não pode ser séria uma pessoa dessas. Ele fala tantas barbaridades que até o Trump parece uma melhor opção. Vai proibir os venezuelanos de entrar, também. É uma pessoa reacionária e de baixa intelectualidade, embora seja muito esperto e oportunista.
Estou certa de que ele está ferrenho em sua postura intolerante porque está a frente nas pesquisas sem a presença de Lula. Seu eleitorado é esse aí e não muda, porém a cada fala insensata angaria mais rejeição.
Eu tenho dois sobrinhos, na faixa dos trinta anos e com ensino superior, que dizem que votarão nele, fato que me leva a concluir que o ensino, realmente está muito ruim.
Não é uma questão de ideologia. É analfabetismo funcional. Pessoas adultas deveriam refletir, serem racionais; deveriam ser capazes de pensar a realidade em que vivem e não estarem enclausuradas numa visão linear da sociedade, ignorando toda complexidade, todo conflito e, consequentemente alheias da vida. Pessoas intelectualmente saudáveis estão em dúvida. Aliás, a certeza é própria dos ignorantes.
Não há um candidato ideal, porém, há opções qualitativamente melhores em todos os sentidos.
A governança de um país exige atitudes políticas e não atitudes de confronto; exige conhecimento da sociedade e sua pluralidade; exige humildade para ouvir o que o povo pensa e quer.
Do outro lado estão os lulistas ferrenhos.
Embora eu tenha votado no PT nas quatro últimas eleições e, embora considere que o governo Lula, (não da Dilma), foi um grande avanço socioeconômico e político para o Brasil, não posso deixar de pensar que a ideologia petista está cegando sua militância, como o faz toda ideologia.
Hannah Arendt aponta a violência e a ideologia como duas forças antagônicas ao diálogo. Ambas maculam a democracia em suas negociações políticas. E eu não conheço ainda uma forma melhor de Governo de Estado do que a República Democrática.
Deve sempre haver espaço para a pluralidade de ideias, sem as quais não é possível falar em liberdade social e individual. A Democracia é um espaço de negociações políticas, onde alguns ganham e alguns perdem, de forma alternada ou não, mas onde todos podem falar e dizer o que pensam.
Considero Lula um grande estadista e por assim o considerar, não posso crer que tamanha corrupção nas instâncias governamentais lhe fosse desconhecida. Ainda quero crer que foi passiva a sua corrupção, entretanto, ele já está condenado em segunda instancia, o que pela lei em vigor o torna inelegível. Mas, o PT insiste em sua candidatura de uma forma também “acerebral”. Não há racionalidade e nem maturidade intelectual nessa insistência. Não há diálogo.
Vivemos um momento crítico, com quase vinte milhões de desempregados, uma recessão profunda e um governo que manipula dados estatísticos para dizer que não há inflação. (Basta ir ao supermercado para ver que é uma falácia.). Apesar disso, o PT insiste numa política que divide, que semeia conflito e na qual há perda de popularidade. Entre todos os eleitores petistas das últimas eleições, acredito que a maior intenção de voto no PT é da própria militância, ideologicamente distante da autocrítica. A parcela de eleitores que agregou votos ao PT sem ser PT, como eu, está entre a cruz e a espada. Em quem votar?
Eu esperava que os eventos que culminaram na Lava jato e no impeachment da Presidente Dilma, provocassem uma reflexão no PT e ele se renovasse em suas ideias e formas de agir. Assumisse os erros e numa autocrítica se abrisse para uma reestruturação político-partidária. Não aconteceu e foi eleita como presidente do partido, uma senadora indiciada por corrupção.
Sem abraçar o paradigma da honestidade como prioridade política básica não haverá credibilidade para o PT. Líderes políticos devem ser probos. É o primeiro quesito.
O antipetismo e a rejeição ao candidato Bolsonaro são viscerais. Ambos, PT e Bolsonaro, provocam uma reação violenta em seus oponentes e isso não deveria acontecer na política, que é a arte da negociação, do diálogo, da composição. Ambas as atitudes dividem o país e geram ódio.
Ruim para o Brasil.
Creio que se o PT ganhasse as eleições teríamos outro governo Dilma. Sem hegemonia política para governar. O mesmo ocorre se Bolsonaro ganhar. Ou fazem outro “mensalinho” para aprovar políticas públicas e projetos, ou não governarão.
Daise, 03/09/2018.