A Flôr, a Côr, a Forma, o Cheiro.

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03/09/2018 18:54

Lula e Bolsonaro

 

Eis que, acidentalmente, assisti a uma entrevista com os presidenciáveis; uma reprise na Globo News.

 

Jesus! – nunca ouvi tanta barbaridade.

 

Bolsonaro é “acerebral” ou tem um “ovo cozido”, (fala dele sobre outros) na cabeça. Nada poderia ser mais estapafúrdio que a proposta dele: EAD – aprendizagem à distância para o ensino básico. Citando uma das sandices.

 

Se as escolas enfrentam dificuldade no ensino presencial e os alunos chegam à quinta série sem conseguirem ler, o que dirá de aprenderem sozinhos e/ou com familiares despreparados intelectual e didaticamente, lhes auxiliando, como  o disse e acha muito plausível o Sr. Bolsonaro?

 

A escola pede socorro há muito tempo, tanto pelas políticas educacionais, como pela baixa remuneração dos docentes, pela falta de recursos financeiros e pedagógicos; falta de apoio governamental. Mas, ao invés de priorizar a escola, o candidato quer o ensino à distância.  E disse que isso vai levar a educação aos confins do Brasil, onde não há escolas ou onde estão muito distantes.

 

Não pode ser séria uma pessoa dessas. Ele fala tantas barbaridades que até o Trump parece uma melhor opção. Vai proibir os venezuelanos de entrar, também. É uma pessoa reacionária e de baixa intelectualidade, embora seja muito esperto e oportunista.

 

Estou certa de que ele está ferrenho em sua postura intolerante porque está a frente nas pesquisas sem a presença de Lula. Seu eleitorado é esse aí e não muda, porém a cada fala insensata angaria mais rejeição.

 

Eu tenho dois sobrinhos, na faixa dos trinta anos e com ensino superior, que dizem que votarão nele, fato que me leva a concluir que o ensino, realmente está muito ruim.

 

Não é uma questão de ideologia. É analfabetismo funcional. Pessoas adultas deveriam refletir, serem racionais; deveriam ser capazes de pensar a realidade em que vivem e não estarem enclausuradas numa visão linear da sociedade, ignorando toda complexidade, todo conflito e, consequentemente alheias da vida. Pessoas intelectualmente saudáveis estão em dúvida. Aliás, a certeza é própria dos ignorantes.

 

Não há um candidato ideal, porém, há opções qualitativamente melhores em todos os sentidos.

A governança de um país exige atitudes políticas e não atitudes de confronto; exige conhecimento da sociedade e sua pluralidade; exige humildade para ouvir o que o povo pensa e quer.

 

Do outro lado estão os lulistas ferrenhos.

Embora eu tenha votado no PT nas quatro últimas eleições e, embora considere que o governo Lula, (não da Dilma), foi um grande avanço socioeconômico e político para o Brasil, não posso deixar de pensar que a ideologia petista está cegando sua militância, como o faz toda ideologia.

Hannah Arendt aponta a violência e a ideologia como duas forças antagônicas ao diálogo. Ambas maculam a democracia em suas negociações políticas. E eu não conheço ainda uma forma melhor de Governo de Estado do que a República Democrática.

 

Deve sempre haver espaço para a pluralidade de ideias, sem as quais não é possível falar em liberdade social e individual. A Democracia é um espaço de negociações políticas, onde alguns ganham e alguns perdem, de forma alternada ou não, mas onde todos podem falar e dizer o que pensam.

 

Considero Lula um grande estadista e por assim o considerar, não posso crer que tamanha corrupção nas instâncias governamentais lhe fosse desconhecida. Ainda quero crer que foi passiva a sua corrupção, entretanto, ele já está condenado em segunda instancia, o que pela lei em vigor o torna inelegível. Mas, o PT insiste em sua candidatura de uma forma também “acerebral”. Não há racionalidade e nem maturidade intelectual nessa insistência. Não há diálogo.

 

Vivemos um momento crítico, com quase vinte milhões de desempregados, uma recessão profunda e um governo que manipula dados estatísticos para dizer que não há inflação. (Basta ir ao supermercado para ver que é uma falácia.).  Apesar disso, o PT insiste numa política que divide, que semeia conflito e na qual há perda de popularidade. Entre todos os eleitores petistas das últimas eleições, acredito que a maior intenção de voto no PT é da própria militância, ideologicamente distante da autocrítica. A parcela de eleitores que agregou votos ao PT sem ser PT, como eu, está entre a cruz e a espada. Em quem votar?

 

Eu esperava que os eventos que culminaram na Lava jato e no impeachment da Presidente Dilma, provocassem uma reflexão no PT e ele se renovasse em suas ideias e formas de agir. Assumisse os erros e numa autocrítica se abrisse para uma reestruturação político-partidária. Não aconteceu e foi eleita como presidente do partido, uma senadora indiciada por corrupção.

 

Sem abraçar o paradigma da honestidade como prioridade política básica não haverá credibilidade para o PT. Líderes políticos devem ser probos. É o primeiro quesito.

 

O antipetismo e a rejeição ao candidato Bolsonaro são viscerais. Ambos, PT e Bolsonaro, provocam uma reação violenta em seus oponentes e isso não deveria acontecer na política, que é a arte da negociação, do diálogo, da composição. Ambas as atitudes dividem o país e geram ódio.

 

Ruim para o Brasil.

 

Creio que se o PT ganhasse as eleições teríamos outro governo Dilma. Sem hegemonia política para governar. O mesmo ocorre se Bolsonaro ganhar. Ou fazem outro “mensalinho” para aprovar políticas públicas e projetos, ou não governarão.

 

Daise, 03/09/2018.

10/11/2017 16:54

Repreender sim, massacrar não.

Repreender sim, massacrar não.

 

Nos últimos dias as mídias caíram em cima do apresentador Willian Wacc sobre um comentário racista, que foi em off.

Eu me pergunto quais são os limites para garantirem a privacidade de um indivíduo nessa era de redes sociais?  _ não temos mais a liberdade de expressar opiniões, fazer piadas e até mesmo ser irônico. Tudo esbarra no politicamente correto. Se eu fosse negra não gostaria do comentário: “é coisa de preto”. Entretanto, entre amigos fazemos piadas como: o que significa GO? –“ gonorante”; e MG? – Mais” gonorante”.

As piadas e comentários racistas fazem parte da nossa cultura popular. Racismo não é prerrogativa da população negra. Há racismo co tra orientais, árabes, latinos etc.. Os portugueses sofrem com sua pseudo-fama de burros, os mineiros com a de caipira, os baianos com a de preguiçosos e por aí vai.

Já dizia Nelson Rodrigues que “a unanimidade é burra’. Acredito piamente nisso.

Não vivemos na Disneylândia. Não somos “Bambe” e nem “Lobo mau”.  Todos somos complexos, nem cem por cento bons e nem cem por cento maus.

Questiono até que ponto um comentário em “off” pode acarretar tanta perseguição?

Eu não gosto do citado repórter por suas posições conservadoras e até deixei de assistir a um programa de debates sobre política em que ele comandava, no dia em que percebi que a mediação dele era extremamente tendenciosa. Entretanto, massacrar o cara por um comentário e até fazê-lo perder o programa jornalístico, para mim é oportunismo. A Globo já queria descarta-lo e pegou uma carona de primeira classe.

Hannan Arendet , se não me engano, considerava a ideologia e a violência como antíteses do pensamento e da política, haja vista que ambas impedem o diálogo. Não é possível criar uma nação democrática na base da censura e da perseguição, ou caímos numa democracia seletiva. Boa para uns e ruim para outros. O repórter não tem empatia, mas até hoje serviu aos interesses de seus empregadores. Seu comentário não foi em rede nacional, foi particular. Infelizmente existem pessoas que vivem com os erros alheios e são também oportunistas, classe de pessoas que eu abomino.

Não fosse um Papa, Michelangelo, Rafael e Boticelle teriam sido considerados hereges devassos por sua arte. Até a pouco tempo meninas se casavam aos dez anos. Minha avó se casou aos treze anos. Mudar uma construção familiar e cultural de um dia para o outro é difícil.

Não estou defendendo o racismo, estou defendendo o direito do indivíduo escorregar numa fala que ele provavelmente ouviu a vida toda. E apesar de sua posição política conservadora, não se  manifestou em público, mas em off.

Lamentavelmente, Monteiro Lobato e até Manoel Bandeira são considerados racistas. Escreveram em determinada época e a arte revela seu tempo; censurá-la é negar o que há subjacente à realidade. O racismo é ainda cultural no Brasil. Não o manifestar verbalmente não implica que ele não exista. Devemos batalhar por um mundo melhor sem perder a lucidez por conta desse ou daquele fato.  Embora impossível não julgar, penso que devemos fazê-lo com prudência.

As redes sociais são inconsequentes. Ao mesmo tempo em que derrubam muros, elas também os criam e recriam. Todos podem falar e compartilhar o que querem e sem provas. Além do mais, devemos considerar que áudios e vídeos podem ser editados, dada a tecnologia atual.

Repreender sim, massacrar não.

 

Daise, 10/11/2017

 

25/05/2017 16:59

História Bizarra

História bizarra

 

A cara-metade viajou a trabalho e minha sogra telefona pedindo para busca-la no aeroporto. Aborrecido. Logo agora, férias conjugais, na boa, a velha acha de vir. Não tem jeito. Pior que o voo chega á noite, na hora das baladas. Hoje não tem pra mim, nem amanhã, ou depois. Eta velha!

Será que foi combinado ela vir pra  me vigiar? – não duvido.

Mulher é bicho tinhoso. Na certa viu pela minha cara que eu estava cheio de planos libidinosos e Cia ltda. e resolveu se garantir. E ela lá, fazendo sei lá o que e com quem...

Sou moderno. Tem que viajar, tudo bem. Não fico criando minhocas na cabeça. Tem hora que uma ideiazinha besta levanta a mãozinha, acena. Dou um tapa nela e jogo pra lá. Cê besta, sô, ficar procurando cornice. Na questão de mulher satisfeita eu me garanto. Sou o cara. Não sou bonito, mas sou gostoso, competente.

No aeroporto, mala daquele tanto... será que ela veio pra morar? Não é possível!? Nem pensar. Vou conversar com a Nina. Até gosto dela, me acha um filho. Mas, sogra prefiro longe.

 O problema é ela chegar justo hoje. Já tinha escolhido a boate.

 A Joana topou sair de novo comigo. Ontem fizemos uma festa. Mulher boa tá ali. Sabe se divertir e não gruda.

Vamos pra casa sogrona. Já jantou? – tudo bem. A gente pede a comida chinesa que a senhora gosta. Faz tempo que eu to querendo comer um yaquissoba.  

Blabá, blababá, blublu. A sogra conta as nova lá de Minas. De esguelha eu bato o olho num sapato largado no carro. Jesus! A Joana naquele frejo de ontem, largou o sapato no meu carro. E agora?

Continuo conversando e já pensando num jeito de desfazer daquele sapato sem a velha ver. E essa, agora!

No sinaleiro dou um jeito de arrumar o banco. A sogra olha pela janela distraída. Eu pego o sapato e ponho do lado da porta. Próxima parada eu jogo ele pela janela. Aliviado um pouco. Pegar era o difícil, jogar fora vai ser moleza.

Pronto. Chegamos em casa e está tudo certo. Joguei o sapato da Joana fora.

Desce mala, e mais uma e mais outra, e uma sacola e outra. Vamos lá sogrona, vamos pedir a comida chinesa que eu estou com fome.

A velha não desce do carro. O que foi dona Gercina?

 - Não acha o sapato? – “Que sapato”?  -Tirou o sapato e não está encontrando! –“Não está debaixo do banco”?- “Eu sei que a senhora não é louca”.” Certo”. “A senhora desceu calçada do avião, entrou calçada no carro e o sapato sumiu”?

 –“ Não sei explicar.” “O sapato deve estar ai. Amanhã a gente encontra...”

 

Daise, 05/10/2012.

25/05/2017 15:45

o tapinha na mão

Pequenos gestos, pequenos detalhes, numa foto, num vídeo, chamam minha atenção. Aquilo que não é óbvio.

Toda uma estrutura pode ruir porque uma peça não foi corretamente encaixada. Todo um discurso político pode ser desacreditado porque uma palavra não era a mais adequada naquele lugar.

Uma criança numa festa esplendorosa com um olhar em sofrimento.  Esses são detalhes. O que é real e o que não é real.  

A vitória inesperada de Trump, um John Wayne fora de época, um cabelo alaranjado que saiu do reality show para a Casa Branca. O poder de vida e morte sobre os miseráveis do mundo. Um cara Incrível.

Um discurso politicamente incorreto contra tudo e todos: mulheres, imigrantes, meio ambiente etc. um rolo compressor de aparência quase exótica, errando na diplomacia e atirando a esmo sua metralhadora desregulada a esquerda e a direita. Imagem nada favorável para um líder. E ele nem aí. –“Vou construir um muro na fronteira com o México”. Dane-se quem não concordar ou gostar. Um falastrão. Canastrão. E o mundo perplexo em não saber se é tudo encenação? Ele ainda não se deu conta que saiu do reality show para a realidade da vida pública. Um tropeço atrás do outro.

Voltou atrás em inúmeras questões, reafirmou outras. Teve uma recusa do Papa em visitar o EUA. Memes na internet. Político novato e sem os vícios do ofício, eu diria. Ainda vai aprender que no jogo político a principal arma é a negociação. O discurso é para os eleitores. No poder há que ter outra retórica. O cerimonial se descabelando com o presidente grosso e sem traquejo para o cargo.

Eis que em sua primeira visita ao exterior cai nas redes sociais pelo tapa da esposa em sua mão, quando tentava alcançar, segurar essa mão conhecida. Viral.

É o detalhe.

Confesso que viajei, como diriam meus filhos. E eu o vi como um garotão frágil. O tipo “muito relâmpago para pouca chuva”, como costumamos chamar alguns tagarelas que se têm a si mesmos em alta conta.

Com tantas trapalhadas cerimoniais, lá está ele buscando o apoio na mão da esposa, que ela tacitamente recusa com um tapa.

E ele está só.

 

25/05/2017

18/01/2017 14:32

A Lenda do Curiango

A lenda do Curiango.

 

 

Existem muitas histórias que correm por aí. Eu já fui premiada uma vez com a lenda do Girassol. Agora conto a lenda do Curiango.

 

Contava um Senhor nordestino, o Sr Severo, uma história para mim, quando era criança:

 

Existia uma moça, muito antigamente, que morava lá nos confins do sertão, onde havia uns poucos moradores aqui e acolá. Viviam das roças, algumas reses e cabritos e as aves domésticas. A vida da cidade ainda não tinha chegado por lá, mas lá produzia tudo que o povo precisava.

 

Essa moça usava um véu sobre o rosto. Ninguém na vizinhança vira a sua face. Tinha formas bonitas, era meiga e agradável. Tinha também longos e sedosos cabelos pretos. Era um mistério o motivo do véu. Todos respeitavam a sua vontade de permanecer com a face oculta. Era uma gente que cuidava da sua própria vida.

 

Existia também, nesse pedaço do sertão, um belo rapaz, de nome Curiango.

Curiango era, por natureza, curioso. Quanto mais conhecia a moça misteriosa e mais gostava dela. Gostava da sua doçura, da sua conversa. Gostava do corpo da moça e gostava que a moça fosse prendada também, como se dizia na região. Seria uma ótima esposa nos padrões daquele lugar. Logo pensou em se casar com ela.

 

A moça não era imune aos encantos do rapaz e, ao ser pedida em casamento, entrou em um terrível dilema: o véu.

Não tiraria o véu por nada. Esta era a condição para se casar. Ele jamais deveria tentar ver o seu rosto. Curiango aceitou.

Com o tempo isso seria resolvido. Ele a convenceria a mostrar-se.

 

Casaram-se. Os anos passaram e nada de tirar o véu. Curiango não agüentava mais. Lançaria mão de qualquer artifício para conseguir ver, enfim, o rosto da esposa.

 

Era tempo de tirar o mel de abelha. Trabalho que demandava técnica e perícia, pois as picadas doíam muito e poderiam até matar.

Costumava-se, na região, fazer uma fumaça próxima à colméia, para que as abelhas a abandonassem e o mel pudesse ser retirado sem risco. Melhor ainda era fazer isso à noite.

 

Curiango chamou a esposa para ir com ele retirar o mel de determinada colméia na mata. Faria uma fogueira e na correria e no medo das abelhas saindo, daria um jeito de tirar o véu e ver o tão sonhado rosto da esposa.

Assim ele pensou e assim ele fez.

 

Chegado o dia e feitos os preparativos, arrancou o véu da esposa.

O que viu o deixou aterrorizado. O rosto era feio. Muito feio mesmo. Tão feio que ele nunca mais queria sequer imaginá-lo. Dali mesmo da mata ele começou a correr. Corria fugindo do rosto horrível, feio, assustador. Corria fugindo da esposa que corria atrás dele girando:

 

“Curiango”, vamos para casa, e corria atrás dele. E ele respondia: “amanhã eu vou!”

 

E é por isso que quando um viajante anda pelo sertão à noite, encontra um Curiango no meio da estrada e quando está lá sentado na varanda ou deitado na rede, escuta um cantar melancólico: “Curiango! Curiango! Curiango!

“Amanhã eu vou! Amanhã eu vou!” Amanhã eu vou!”

 

Daise Aparecida Vilela Tostes

 

26/12/2014 20:36

A filosofia que veio do frango

A Filosofia que veio do Frango

 

Eu era criança pequena e já era exímia matadora de frangos. Agachada, um pé nas asas e outro nos pés da ave, esticava o seu pescoço e arrancava as penas com uma faca, dava umas batidinhas para o sangue aflorar nas veias e num talho certeiro o sangue jorrava. Ele não saia do lugar.

A família inteira admirava a minha perícia infantil. Era convidada a mostrar a habilidade sempre que aparecia oportunidade. Aplaudida.

Um dia eu olhei para os olhos do frango: -“mamãe, o frango está chorando!” – Naturalmente fui informada de que os frangos não choram e de que aquilo era uma bobagem.

Nunca mais matei um frango ou qualquer outro animal.

Acredito que naquele momento eu tive uma revelação da finitude da minha vida. Lembro-me que comecei a indagar a minha mãe porque nós comíamos frangos, porcos e vacas.  Ela não tinha uma resposta. Dizia que os animais eram criados para nos alimentar. Então eu imaginava que a vida deles era muito besta. Viver e de repente virar comida.

O assunto da vida do frango surgiu quando eu conversava com uma amiga. Contei a ela as minhas questões infantis e ela me mostrou uma alternativa na qual eu não havia pensado: qual a garantia de  que nós também não éramos criados para ser alimento energético de algum outro ser cósmico? Quem poderia garantir que a vida do frango era besta?

Realmente nós nos construímos no diálogo com o outro. Dificilmente pensamos todos os ângulos que há na realidade. Precisamos dos outros olhares.

E se a Terra fosse uma horta ou um pasto para outro planeta e nós estivéssemos aqui para cumprir também uma função na cadeia alimentar?

Como entender e explicar a nossa função aqui nesse mundo? Matamo-nos uns aos outros; matamos sem fome. Matamos por dinheiro, por raiva, cobiça. Criamos um mundo hostil a nós mesmos. Agredimos a natureza e nos agredimos. Mas, criamos. Esta é a grande questão.

Temos a capacidade de criar, mas não impedimos a nossa própria morte e nem somos capazes de prevê-la. Ela nos espera, talvez, na próxima esquina.

Agora conversamos, sorrimos, confraternizamos. Daqui a pouco o que será?

Também o frango cisca e come suas pedrinhas, minhocas, bate as asas e depois: morte.

Imaginem as Granjas e os confinamentos. Imaginem a zootecnia se aprimorando para melhorar a qualidaA Filosofia que veio do frangode e o lucro desses animais. Milhares de aves e animais sem dormir, comendo e bebendo água o tempo todo, para engordar mais rápido e serem abatidos. Depois imaginem os grandes aglomerados urbanos. Milhões de pessoas que se levantam e vão para o trabalho em ônibus lotados demoram horas no trânsito, trabalham sem saber para que, por que: não sabem ou não conhecem o que estão produzindo. Precisam receber um salário e se alimentar. Voltam para casa e já é noite. Sem lazer, sem tempo para se perceberem e perceberem a natureza e a vida ao redor. Alienados, incapazes de se apropriarem de suas vidas.

Não parece haver tanta diferença nessa vida com a vida do frango, mesmo se pensarmos em quem vai para o trabalho de carro ou quem vai para a escola. Estamos indo e voltando. A rotina, o tédio das relações acomodadas; o roteiro que nunca muda. O conforto e o desconforto  do conformismo.

 

Daise, Fevereiro 2012.

 

19/12/2014 20:55

Falas de meu Pai

Falas de meu pai

 

 

-“Os tucanos são uma praga”- falava meu pai. Afinal eles não perdoavam os mamões maduros do quintal. Meu Pai ia apanhá-los e já estavam metade comidos. – “Praga de Tucanos”. “ E tem mais: não comem só as frutas não, acabam com os ninhos dos Bem-Te-Vi”.

Meu Pai continuou:- “Eles são piores do que o Gavião. Bebe o ovo dos outros passarinhos e também come os filhotes. Bicho mal. Andou sumido dessas bandas, mas com essa lei de não caçar virou uma praga. Não tem comida na roça, desmatam tudo, vem pra cidade atentá o quintal da gente. Come de tudo que acha.

Gosto é do João- de- Barro, do Sabiá. Da prosa dos “pásso-preto”. Uma gritaria animada. Essas Maritaca também não gosto. Comem até o  côco ainda  pequeno que nem tem carne. Indecência, num deixa fruta nenhuma “madurá”.

Alguns passarinhos são mais espertos que os outros. Eu gosto de observar. O ninho do Bem-Te-Vi fica lá no alto e ele vigia. Fica na tocaia. Já vi arrastar Tucano pra longe: vem por baixo e bica as penas e arrasta no ar. Tucano fica indefeso em pleno vôo, se for se defender cai. Passáro-Preto também arrasta. Briga em pleno ar. Já o coitado do Sabiá...é presa fácil. O Guache é caprichoso e o ninho é bem protegido. Todos os ninhos numa mesma árvore e sempre um fica de guarda. Arruma uma gritaria se aparece uma ameaça.”

Como é bom ficar ouvindo meu Pai. Como quando eu era criança e ouvia os causos de onça e assombração. Sucuris enormes e valentias sem fim. Ele anda esquecido e começa a contar o causo e depois esquece e emenda de improviso. Não fica bom como quando ele conta de verdade, de como ele se lembra. Acho que cada vez vai contar menos histórias, mas enquanto quiser contar eu continuo ouvindo e gostando muito.

Daise, 19/12/14

14/12/2014 18:50

Sem nome

 

 

 

A mulher está dormindo

A janela aberta

A lua espia.

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03/09/2018 18:54

Lula e Bolsonaro

  Eis que, acidentalmente, assisti a uma entrevista com os presidenciáveis; uma reprise na Globo News.   Jesus! – nunca ouvi tanta barbaridade.   Bolsonaro é “acerebral” ou tem um “ovo cozido”, (fala dele sobre outros) na cabeça. Nada poderia ser mais estapafúrdio que a proposta...
10/11/2017 16:54

Repreender sim, massacrar não.

Repreender sim, massacrar não.   Nos últimos dias as mídias caíram em cima do apresentador Willian Wacc sobre um comentário racista, que foi em off. Eu me pergunto quais são os limites para garantirem a privacidade de um indivíduo nessa era de redes sociais?  _ não temos mais a...
25/05/2017 16:59

História Bizarra

História bizarra   A cara-metade viajou a trabalho e minha sogra telefona pedindo para busca-la no aeroporto. Aborrecido. Logo agora, férias conjugais, na boa, a velha acha de vir. Não tem jeito. Pior que o voo chega á noite, na hora das baladas. Hoje não tem pra mim, nem amanhã, ou depois....
25/05/2017 15:45

o tapinha na mão

Pequenos gestos, pequenos detalhes, numa foto, num vídeo, chamam minha atenção. Aquilo que não é óbvio. Toda uma estrutura pode ruir porque uma peça não foi corretamente encaixada. Todo um discurso político pode ser desacreditado porque uma palavra não era a mais adequada naquele lugar. Uma criança...
18/01/2017 14:32

A Lenda do Curiango

A lenda do Curiango.     Existem muitas histórias que correm por aí. Eu já fui premiada uma vez com a lenda do Girassol. Agora conto a lenda do Curiango.   Contava um Senhor nordestino, o Sr Severo, uma história para mim, quando era criança:   Existia uma moça, muito...
26/12/2014 20:36

A filosofia que veio do frango

A Filosofia que veio do Frango   Eu era criança pequena e já era exímia matadora de frangos. Agachada, um pé nas asas e outro nos pés da ave, esticava o seu pescoço e arrancava as penas com uma faca, dava umas batidinhas para o sangue aflorar nas veias e num talho certeiro o sangue jorrava....
19/12/2014 20:55

Falas de meu Pai

Falas de meu pai     -“Os tucanos são uma praga”- falava meu pai. Afinal eles não perdoavam os mamões maduros do quintal. Meu Pai ia apanhá-los e já estavam metade comidos. – “Praga de Tucanos”. “ E tem mais: não comem só as frutas não, acabam com os ninhos dos Bem-Te-Vi”. Meu Pai...
14/12/2014 18:50

Sem nome

      A mulher está dormindo A janela aberta A lua espia.

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