
A Flôr, a Côr, a Forma, o Cheiro.
A Cidade
“Cidade e sustentabilidade” foi um congresso que aconteceu em 2013 em Goiânia.
Uma atitude, por menor que seja traz algum alento, para alguém como eu, que tem os seus trajetos na cidade.
A pé ou de carro, sinto falta de uma cidade que é sonho. Ruas arborizadas, calçadas largas, brisa suave. Transito viável. Respeito.
Respeito do poder público, cumprindo a sua parte no contrato social: manter as ruas limpas, fiscalizar as irregularidades, promover a cidadania, a educação ambiental. Respeito aos mais carentes.
Viver na periferia de Goiânia, com certeza não é fácil e nem é fácil chamá-la de bela. Sequer amá-la. As populações carentes são cada vez mais empurradas para a periferia, para onde não há asfalto, equipamentos sociais, praças, áreas verdes, transporte público regular.
Os loteamentos atendem à especulação e ao poder econômico das grandes construtoras/incorporadoras, que sem amor a cidade a maculam com prédios cada vez mais altos, ruas estreitas. Ilhas de concreto sem afeto.
Para cada torre de trinta andares, quatro apartamentos por andar e duas garagens por apartamento são 30x4x2=240 carros a mais no perímetro.
Eu sigo pela cidade e olho as ruas sujas, as áreas de preservação ambiental sendo invadidas, as árvores derrubadas. Os prédios subindo vertiginosamente. A paisagem muda de um mês para o outro e já não reconheço onde estive, onde estou. Sinto falta da familiaridade das ruas, dos estabelecimentos.
A cidade não é um lugar para se viver, é um lugar para enriquecer alguns. Alheios a poesia da vida, à beleza de um entardecer, as construções se ajuntam e sufocam-se umas as outras, num aproximar-se que não é um abraço, é uma ameaça a liberdade do olhar humano. “o edifício barra-me a vista”, disse Drumond a muitos anos.
Porque temos que permitir que seja assim? Somos o povo que habita esses pr´dios e anda nessas ruas e entretanto não somos ouvidos, consultados.
No Parque anicuns/cascavel muitas famílias foram removidas. Para dar lugar ao parque e preservar a natureza, justificaram. Entretanto enquanto as famílias pobres foram enviadas para locais poeirentos e distantes do centro urbano, condomínios caros começaram a subir junto ao parque. A vizinhança desejável é uma vizinhança artificial para o território, fabricada pelo interesse econômico.
Poder econômico que segue em frente sem impedimentos legais ou sociais. Acima do bem e do mal. Sequer têm um modelo de uma cidade rica para copiarem. Não entendem de urbanismo, não entendem de relações sociais e humanas. Não entendem de solidariedade humana, urbana.
Para eles as pessoas e anatureza são abstrações. O real é o concreto subindo aos céus.
O conceito de edifício hotel, que já mencionei em outro texto. Um apartamento pequeno, três quartos com suíte, claustrofobicamente maquiados de eficiência, e uma gama de serviços: sauna, pista de corrida, piscinas, fitness, etc. para os mais abastados uns trezentos metros quadrados e mais os serviços do “hotel”.
Salas e mais salas decoradas de forma despersonalizada, onde ninguém irá se sentar ou se reunir. Apenas para ter. ter é medidada de todas as coisas.
Esse senhor poder econômico não pensa na possibilidade das ruas arborizadas, das avenidas largas, das praças jardim, que podem tornar a cidade o lugar do encontro e do aconchego.
O congresso, na pessoa de dois excelentes arquitetos, apresentou um novo conceito de urbanização. Um conceito de adequação do traçado urbano a traçado da natureza. Uma harmonia no encontro do concreto com o verde.
O poder municipal teve a iniciativa do congresso, resta saber se ele tem a atitude para começar a gerir a cidade. Governar. Repeitar o espaço píblico e proteger o espaço ambiental.
Goiânia, julho/2013;
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