A Flôr, a Côr, a Forma, o Cheiro.

A Lenda do Curiango

18/01/2017 14:32

A lenda do Curiango.

 

 

Existem muitas histórias que correm por aí. Eu já fui premiada uma vez com a lenda do Girassol. Agora conto a lenda do Curiango.

 

Contava um Senhor nordestino, o Sr Severo, uma história para mim, quando era criança:

 

Existia uma moça, muito antigamente, que morava lá nos confins do sertão, onde havia uns poucos moradores aqui e acolá. Viviam das roças, algumas reses e cabritos e as aves domésticas. A vida da cidade ainda não tinha chegado por lá, mas lá produzia tudo que o povo precisava.

 

Essa moça usava um véu sobre o rosto. Ninguém na vizinhança vira a sua face. Tinha formas bonitas, era meiga e agradável. Tinha também longos e sedosos cabelos pretos. Era um mistério o motivo do véu. Todos respeitavam a sua vontade de permanecer com a face oculta. Era uma gente que cuidava da sua própria vida.

 

Existia também, nesse pedaço do sertão, um belo rapaz, de nome Curiango.

Curiango era, por natureza, curioso. Quanto mais conhecia a moça misteriosa e mais gostava dela. Gostava da sua doçura, da sua conversa. Gostava do corpo da moça e gostava que a moça fosse prendada também, como se dizia na região. Seria uma ótima esposa nos padrões daquele lugar. Logo pensou em se casar com ela.

 

A moça não era imune aos encantos do rapaz e, ao ser pedida em casamento, entrou em um terrível dilema: o véu.

Não tiraria o véu por nada. Esta era a condição para se casar. Ele jamais deveria tentar ver o seu rosto. Curiango aceitou.

Com o tempo isso seria resolvido. Ele a convenceria a mostrar-se.

 

Casaram-se. Os anos passaram e nada de tirar o véu. Curiango não agüentava mais. Lançaria mão de qualquer artifício para conseguir ver, enfim, o rosto da esposa.

 

Era tempo de tirar o mel de abelha. Trabalho que demandava técnica e perícia, pois as picadas doíam muito e poderiam até matar.

Costumava-se, na região, fazer uma fumaça próxima à colméia, para que as abelhas a abandonassem e o mel pudesse ser retirado sem risco. Melhor ainda era fazer isso à noite.

 

Curiango chamou a esposa para ir com ele retirar o mel de determinada colméia na mata. Faria uma fogueira e na correria e no medo das abelhas saindo, daria um jeito de tirar o véu e ver o tão sonhado rosto da esposa.

Assim ele pensou e assim ele fez.

 

Chegado o dia e feitos os preparativos, arrancou o véu da esposa.

O que viu o deixou aterrorizado. O rosto era feio. Muito feio mesmo. Tão feio que ele nunca mais queria sequer imaginá-lo. Dali mesmo da mata ele começou a correr. Corria fugindo do rosto horrível, feio, assustador. Corria fugindo da esposa que corria atrás dele girando:

 

“Curiango”, vamos para casa, e corria atrás dele. E ele respondia: “amanhã eu vou!”

 

E é por isso que quando um viajante anda pelo sertão à noite, encontra um Curiango no meio da estrada e quando está lá sentado na varanda ou deitado na rede, escuta um cantar melancólico: “Curiango! Curiango! Curiango!

“Amanhã eu vou! Amanhã eu vou!” Amanhã eu vou!”

 

Daise Aparecida Vilela Tostes

 

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